quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ÀBÍKÚ são espíritos de crianças marcadas por várias mortes e retorno, reunindo-se num pé de Irocô para brincar e chamar as crianças-àbíkú vivas.











As mortes destas crianças geralmente foram mortes violentas, acidentes com mutilações ou comprometimentos de órgãos.

Se encaixam nesse grupo os que foram vítimas de homicídios, principalmente com requintes de crueldades.
Crianças vitimas de abortos, crianças abusadas fisicamente e mentalmente.

A crença de que os ÀBÍKÚS são entidades maléficas, se da em parte ao problema físico que em muitos casos eles ocasionam para suas mães.

O motivo não é difícil de entender.


Muitas dessas crianças foram rejeitadas em outras ocasiões, sofreram com abortos provocados, atrocidades das mais diversas e reconhecendo as futuras mães, pais e parentes e até mesmo nos seus irmãos elementos que criaram problemas no passados tentam de alguma forma vingarem-se.

Muitas vezes a mesma criança organiza seu nascimento várias vezes, deixando o corpo inerte em seguida, outros não chegam a nascer e ou quando nascem e ficam alguns meses, partem para o orun.

ÀBÍKÚ ou eméré formam sociedades no céu (egbé òrun), presididas por lyajansa (a mãe-se-bate-ecorre) para os meninos e olókó (chefe da reunião) para as meninas mas é Aláwaiyé (Rei de Awayé) que as levou ao mundo pela primeira vez na sua cidade de Awaiyé. Lá se encontra a floresta sagrada dos ÀBÍKÚS, aonde os pais de ÀBÍKÚS vão fazer oferendas para que eles fiquem no mundo.

Quando eles vêm do céu para a terra, os ÀBÍKÚS passam os limites do céu diante do guardião da porta, o aduaneiro do céu onjbodé òrun, seus companheiros vão com ele até o local onde eles se despedem.

Os que partem declaram o tempo que tencionam ficar no mundo e o que farão. Se prometem a seus companheiros que não ficarão ausentes, essas crianças, apesar de todos os esforços de seus pais, retornarão, para encontrar seus amigos no céu.

Quando Aláwaiyé levou duzentos e oitenta ÀBÍKÚS ao mundo pela primeira vez, cada um deles tinha declarado, ao passar a barreira do céu, o tempo que iria ficar no mundo. Um deles se propunha a voltar ao céu assim que tivesse visto sua mãe; um outro, que iria esperar até o dia em que seus pais decidissem que ela se casasse; um outro, que retornaria ao céu, quando seus pais concebessem um novo filho, um ainda não esperaria mais do que o dia em que começasse a andar. Outros prometem a lyàjanjasà, que está chefiando a sua sociedade no céu, respectivamente, ficar no mundo sete dias, ou até o momento em que começasse a andar ou quando ele começasse a se arrastar pelo chão, ou quando começasse a ter dentes ou ficar em pé. Resumindo: cada um fez uma promessa.


Nossas histórias de Ifá nos dizem que oferendas feitas com conhecimento de causa são capazes de reter no mundo esses ÀBÍKÚS e Ihes fazer esquecer suas promessas de volta, rompendo assim o ciclo de suas idas e vindas constantes entre o céu e a terra, porque, uma vez que o tempo marcado para a volta já tenha passado, seus companheiros se arriscam a perder o poder sobre eles.

Os ÀBÍKÚS encarnados se perderem o tempo proposto para voltar ao Orun, criam uma situação de atrito com os que ficaram esperando, então, devemos fortalecê-los para evitar que, os que esperam não possam mais influenciar os encarnados.

A influência pode ser de várias maneiras, desde de sonhos, pesadelos, acidentes inesperados, estados de demência mental, atrofia de membros, vampirismo, estímulos ao agrupamento com mentes deturpadas e desequilibradas, pois embora sejam entidades definidas como crianças sabemos que sua forma engana, pois é uma energia espiritual tanto quanto a de um adulto, apenas a forma esta condensada, compactada numa visão etérea, infantil, tendo plena condições de obsessões ferrenha, que para eles tem justificativa.

Trabalho bem organizado para os que ficam, ou melhor; devam ficar e para os que estão lá pode fazer com que os encarnados encontre motivos, um outro caminho, estimulados pelo mecanismo das oferendas, que devem ser tanto para os encarnados como engambelo para os que estão no plano espiritual.

Os pais tem que saber, desmistificar e por em prática os ensinamentos para a má sorte poder ser modificada, numa certa medida, quando certos segredos são conhecidos.

É importante identificar o ÀBÍKÚ, seu passado, para entender o que pretende fazer. No caso, as condições nas quais o ÀBÍKÚ deixou o mundo em outra ocasiões. Esta noção sobre a importância de conhecer certos segredos é também expressa no conhecimento que se tem quando os ÀBÍKÚS combinam a chegada no aiê.

A fraternidade de meninos e meninas fazem suas combinações de códigos que se forem quebrados obrigam eles a ficarem no plano terrestre, o que seria para eles um castigo, portanto eles não deixam que suas combinações sejam descobertas pois furaria o acordo entre eles e os colegas que estão no orun .

Quando um encarnado souber, fará o necessário para que eles quebrem a palavra. É por isso que Ifá, quando consultado, orienta oferendas que furam o bloqueio secreto dos ÀBÍKÚS.

Essas oferendas são penduradas nas árvores acompanhadas de pratos de alimentos e doces.

As cerimônias serão feitas todos os anos, durante sete anos seguidos, e sempre observado pelo BABA, que poderá após consulta a Ifá determinar os axés até vinte e um ano.

Outras determinações pedem axé todos os anos até vinte e um e de sete em sete até quarenta e nove anos, quando ficará definitivamente no meio da família.

Tais oferendas são, com efeito, uma forma de expressão sem acompanhamento de palavras articuladas; o discurso é substituído pela apresentação dos objetos, provando que a oferenda conhece os segredos, fazendo-o assim participar do pacto dos ÀBÍKÚ.

Entre as oferendas que podem variar desde trajes de roupas, brinquedos, folhas, frutos, comidas diversas inclusive a que a entidade ÀBÍKÚ gostava em alguma fase de sua anteriores reencarnações, buscando sempre colocar ele em condições de se reeligar com os encarnados e desligar-se do reino antecedente.

As ofertas constituem uma espécie de mensagem, é acompanhada por encantamentos.

A intenção é através de rituais afastar os antigos companheiros e dar motivo para o encarnado continuar no meio, apoiado material e permanente na mensagem dirigida pelos elementos protetores contra os elementos hostís, sendo essa forma de expressão menos efêmera do que a palavra .

Quando existe a necessidade, são colocados xaorôs, anéis providos de guizo, usados nos tornozelos pelas crianças ÀBÍKÚS para afastar os companheiros que tentam no mundo, lembrar-lhes suas promessas.

De fato, seus companheiros não aceitam assim tão facilmente a falta de palavra dos ÀBÍKÚS, retidos no mundo pelas oferendas, encantamentos e talismãs preparados pelos pais, de acordo com o conselho dos babalaôs.


0s membros da sociedade dos ÀBÍKÚ, egbé ará òrun, vêm do céu residir nos lugares pantanosos ou nos regatos, donde chamam as crianças que querem ficar no mundo, como também a volta da árvore IROCO.

Mas nem sempre precauções e oferendas são suficientes para reter as crianças sobre a terra.

lyájanjasa é muitas vezes mais forte. Ela não deixa agir o que as pessoas fazem para os reter.

Os corpos dos ÀBÍKÚ que morrem, são frequentemente mutilados, a fim de que, seu perispírito, dizem, percam seus atrativos e seus companheiros no céu não queiram brincar com eles, sobretudo para que o espírito do ÀBÍKÚ, maltratado deste modo, não deseje mais vir ao mundo.

É importante, que uma criança quando identificada como sendo um ÀBÍKÚ, receba o tratamento adequado, para que se mantenha com força suficiente de alcançar a maturidade e o esquecimento total dos laços antigos.

O esquecimento parcial gira em torno de 17 anos e o total 49 anos de idade, logicamente depende da qualidade e força vibracional dos ÀBÍKÚS envolvidos, da maneira que serão administrados os axés, o meio ambiente, os laços familiares.

Às crianças ÀBÍKÚS que conseguem sobreviver, são dados nomes específicos que fazem referência à sua especial condição de nascimento.

Isto deverá ocorrer sempre, no sétimo dia depois de seu nascimento - se for menina, ou no nono dia - se for menino. No caso de gêmeos, os nomes serão dados no oitavo dia após o nascimento. Esta festividade que comporta um ritual é denominada Ikomojade, e tem por finalidade principal, dar aos ÀBÍKÚS, mesmo que de maneira discreta, nomes que desestimulem sua volta ao Orun, alguns dos quais de conhecimento geral, relacionamos em seguida:



Age Igba - que a riqueza não se perca.

Aiye Dun - a vida é doce.

Aiye Lagbé - ficamos no mundo.

Apaara - freqüenta minha casa.

Apara - aquele que vai e vem.

Akisotan - não existe mais mortalha para o sepultamento.

Akuji – o que está morto, desperta.

Ajuki - o morto viverá.

Amatunde – o menino que retorna.

Ayomu mo - vai pra o céu e volta.

Bajoko – senta-se ao meu lado.

Banjokô - sente-se e fique comigo.

Buro-Orí-Iké - fica, espere e veja como serás mimado.

Duro – me atende e fica.

Duro Joyé – continua a gozar a vida.

Durosimi - espere para me enterrar quando eu morrer .

Ebe Loko – implora pra ficar.

Ení Lolobo – alguém partiu e voltou.

Enú- Kún-Onipê - o consolador está cansado .

Igbe Koyi - nem a floresta quer você- a selva rejeita essa criança.

Jekiniyin - permita que eu tenha um pouco de respeito.

Jekin-niyin – me dá seu preço.

Ifari – chamemo-lhes.

Iletan – está acabado.

Inu Kuno naipe – estou cansado (a) de receber pêsames.

Ikú Faryin – a morte perdoa.

Ikú Okura – a morte é apenas um nome.

Kaje Yu – não é aceito pra morrer.

Kike – indulgente.

Kokun – não morras mais.

Koni Bi Re – não vai lá.

Kosile – não vai enterrar mais.

Kosokó - não existe mais terra- a terra acabou.

Kosoko – não vai cruzar o túmulo.

Kumipayi – Kuti – a morte não mata mais este aqui.

Maku – não morre mais.

Malómo - não vá embora novamente.

Matnami – não larga mais a vida.

Obi Mesan – não vingarás.

Okú - o morto.

Oku se Hiyn – o morto que retorna.

Omotundé – a criança voltou.

Orun Kun – o céu está cheio.

Ratini – suporta-me.

Sinmi – é difícil ficar enterrado.

Shome – difícil fazer as crianças permanecer.

Tijú-Icú - envergonhe-se de morrer.

Tijuiko – vergonha da morte.

Tomi Mowo – quem sabe como cuidar.

Toyé – se ficares, receberás homenagens.

Wojú – difícil olhar para os meus olhos.

Como se vê, os nomes ÀBÍKÚ renegam a morte e a possibilidade de retorno ao Egbe Orun. Ressaltam a vida e o quanto é bom desfrutar das coisas existentes sobre a Terra, principalmente o amor dos pais e irmãos. Estas crianças devem ser chamadas, sempre, por estes nomes, o que ajuda o rompimento definitivo do seu vínculo com o grupo Emeré.

Periodicamente oferecem-se comidas ritualísticas às crianças ÀBÍKÚS, o que acontece, invariavelmente, por ocasião de seus aniversários natalícios, produzidas principalmente, com feijões e óleo de palma. Acredita-se que durante estes festivais, os espíritos ÀBÍKÚS se apresentam e, ao participarem do evento, são apaziguados.

Por eles não terem templo, assentamentos, ou local específico para receberem homenagem, mas da mesma forma que entidades outras sentem a necessidade de quando estavam encarnados, os ÀBÍKÚS sofrem de fome, sede e frio, uma vez que ninguém oferece o sacrifício para eles e eles, nem rituais especiais para ajudarem a se equilibrar energeticamente, propiciando melhorar sua condição de entrada os corpos de bebês recém-nascidos.

O alimento normalmente dado aos ÀBÍKÚ, o caruru tradicional oferecido aos ibeji.

Este caruru não é outra coisa senão o obèlá da cerimônia dos ÀBÍKÚ e preparado do mesmo modo. Oká (pasta de inhame). Obèlá (espécie de caruru). Èkuru (feijão moído e cozido nas folhas). Eran dindi, eja dindin (carne e peixe fritos). .

Em sua prece a tanyinon tinha evocado Sàlàkó, que com Tàlàbi são os nomes dados aos meninos e meninas que vem ao mundo com pedaços de membrana rompida sobre a cabeça; circunstância excepcional do seu nascimento que os aproxima da sociedade dos ÀBÍKÚ .

Os espíritos ÀBÍKÚ formam um grupo denominado Egbe Orun Abíkú, que habita o mundo paralelo que nos rodeia, o Orun, morada dos deuses e dos antepassados.

No Orun, termo que pode ser corretamente traduzido para céu, este grupo de espíritos dividem-se em categorias, de acordo com o sexo, sendo que os pertencentes ao sexo masculino são chefiados por Oloiko (Chefe do grupo) e os de sexo feminino, por Iyajanjasa (A Mãe que bate e corre).

Na sua vinda do Orun para o aiye (terra), os espíritos, também conhecidos como Emere, estabelecem um pacto com Onibode Orun, o guardião dos portais do Orun, condicionando sua permanência no nosso mundo, a determinadas exigências.

Convém reafirmar a situação do vampirismo, das obsessões, podemos assim dizer, exercido pelos ÀBÍKÚ desencarnados, é de extrema violência, podendo em muitos casos, levar uma criança de tenra idade a ter sofrimentos que seriam perturbadores até para adultos. Também a possibilidade desta crianças assediadas pelos ÀBÍKÚS desencarnados sofrerem acidentes que lhe causem mutilações , sofrimentos temporários ou definitivos, tanto no campo mental como físico, é muito grande e de grande constrangimento para todos que estão a volta, como tutores da criança ÀBÍKÚ reencarnada.

As pessoas diretamente ligadas a elas, sofrem ou são afetadas pelas vibrações dos desencarnados, tornando-se involuntariamente instrumentos em muitos casos de torturas, sofrimentos para o encarnado ÀBÍKÚ, assim de maneira involuntária, estimulam eles a desertarem da ação vigente. Além claro do constante sentimento de impotência e culpa, que em muitos casos chegam a raia da loucura, da depressão, pois não conseguem uma explicação lógica.

Pior quando pressentem que um perigo esta eminente e não conseguem entender o que e como possa acontecer.

É aconselhável, portanto, que se faça um ebori na criança ÀBÍKÚ ficando uma pessoa responsável, que deverá chama-lo sempre de MEU FILHO, independente do grau de parentesco que tenha. Este ebori deverá ser cuidado e de inteira responsabilidade da pessoa escolhida.

Geralmente é aquela que tenha ligação espiritual com o grupo ÀBÍKÚ, que na maioria das vezes, são filhos de XANGÔ, NANÃ, IANSÃ e OXALÁ, e claro, não esquecendo da mãe de todas as cabeça IEMANJÁ.

Estas pessoas serão encarregadas de conduzir as vibrações de equilíbrio destas crianças até alcançarem a idade em que estará liberta das perseguições dos ÀBÍKÚ companheiros de outra vida.

A criança ÀBÍKÚ quando desencarna a partir dos 54 anos, não mais estará vinculada aos grupos de origem, no entanto durante sua vida deve estar preparada quando tornar-se progenitor de observar a entidade que esta na ronda.

Sempre dias depois do nascimento da criança filha de ÀBÍKÚ, realiza-se a cerimônia de dar o nome, denominada ekomojadê, quando o babalawo consulta o oráculo para desvendar a origem da criança. É quando se sabe, por exemplo, se tratar de um ente querido renascido.

Os nomes podem referir-se ao seu orixá pessoal, geralmente o orixá da família, ou à condição em que se deu o nascimento, tipo de gestação e parto, sua posição na seqüência dos irmãos, quando se trata, por exemplo, daquele que nasce depois de gêmeos.

A partir do momento do nome, desencadeia-se uma sucessão de ritos de passagem associados não só aos papéis sociais, como a entrada na idade adulta e o casamento, mas também à própria construção da pessoa, que se dá através da integração, em diferentes momentos da vida, dos componentes do espírito.

Com a morte, estes ritos são refeitos, no axexe com a intenção de liberar essas unidades espirituais, de modo que cada uma delas chegue ao destino certo, restituindo-se, assim, o equilíbrio rompido com a morte.

O ebori de um ÀBÍKÚ deve ser fortalecido e observado de 40 em 40 dias até o sétimo ano, se o axé for feito antes dos 3, se passou muito desta faixa deve ser avaliado de 40 em 40dias mas não tem um período mínimo de 7 anos mas sim de 9 anos.

Se for descoberta a situação a partir dos 13 anos a situação é bem mais complicada, pois imputaria a criança ÀBÍKÚ encarnada uma jornada de sofrimento dos mais variados. Desde a saúde fragilizada até a parte financeira afetada. Na realidade haveria um rodízio de situações ao longo da vida, não dando condições da pessoa desfrutar desta vida.

Melhor seria resumir que a vida de um ÀBÍKÚ que consegue se manter vivo, uma vida de sofrimento dos mais variados, não tendo a mente deste elemento, descanso e paz. Pior que, quem esta a sua volta, sofre muitas vezes, sem perceber o efeito das vibrações destas entidades, que embora sejam infantis, podemos assim dizer, estão vinculadas a todas as entidades que se opõem a evolução do ser humano, através da reencarnação.

Os ÀBÍKÚ desencarnados se associam às entidades outras com a finalidade de fazer cumprir os contratos anteriores entre eles e os que estão encarnados, esquecendo-se da união, por estarem com o espesso véu da veste física.

Como coloquei anteriormente, a sorte (destino) pode ser modificada, numa certa medida, quando certos segredos conhecidos são aplicados de maneira correta e em tempo hábil. Dentre os elementos que podem ser utilizados, as folhas mensageiras são importantes, embora não tão usadas.

A próxima criança gerada pela mãe do falecido, se apresentar uma das marcas feitas no cadáver de seu irmão, com o lóbo duplo ou bipartido numa das orelhas, ou ainda, se possuir um sexto dedo num dos pés ou mãos, estará caracterizado a presença do ÀBÍKÚ, devendo ser imediatamente submetida aos rituais que lhe preservarão a vida e que, da mesma forma que os procedimentos relativos ao cadáver de seu falecido irmão, só podem ser ministrados por um sacerdote do culto de Ifá, Babalawo consagrado e especializado neste tipo de ritual.

Assegurado o nascimento da criança, e tendo esta, efetivamente nascida com vida, deverá então ser submetida aos rituais propiciatórios para que o espírito permaneça naquele corpo, com a garantia de que será aquela a sua última encarnação.

Um ebó será preparado, com um pedaço de tronco de bananeira vestido com roupas e gorros tingidos de osun e bordados de búzios e guizos.


Penduram-se tudo nos galhos de uma árvore e, no chão, arria-se ao redor do tronco, pratos ou alguidares de barro contendo inhame, acarajé, ekurú, akasá, canjica, doces, frutas, bebidas, folhas ritualísticas, tudo bem coberto com mel de abelhas.

Uma cabra, um pombo e um galo são sacrificados e arriados no local, onde permanecerão por algum tempo. Depois, embrulham-se os corpos dos animais sacrificados num pano branco, cobre-se com bastante pó de efun, amarra-se e enterra-se nas margens de um rio, ou despacha-se nas águas, de acordo com a orientação obtida através do oráculo.

Na confecção do ebó, não são utilizadas rezas ou cânticos, sendo exigida, isto sim, a presença dos pais biológicos do ÀBÍKÚ, que deverão saber o objetivo do ebó. As mesmas folhas oferecidas no sacrifício serão utilizadas em banhos e na confecção de pós mágicos que serão esfregados nas incisões do ÀBÍKÚ e na preparação do amuleto que deverá acompanhá-lo pelo resto da vida. As folhas têm que ser consagradas antes de sua utilização e, para isso, possuem ofós específicos, que ressaltam suas qualidades e funções.

Estas são as plantas sagradas utilizadas em seus rituais:

- Abirikolo - à cascaveleira, também

conhecida como amendoim-do-mato, ou

ainda, xekeré.

- Agidimagbayin - walteria americana - Folha

de veludo, erva de soldado.

- Idi - Amendoeira.

- Ija - Osun - Bixa orellana, Lin.

- Lara pupa - Mamona vermelha.

- Olobutoje - Pinhão-da-Bahia.

- Opa emere - Dobradinha-do-campo.



Estes são os ofós de consagração de cada folha:


Abirikolo: Ewe abirikolo, insinu Orun e pehindá. (Folha abirikolo, coveiro do céu, retorne).

Agidimagbayin: Ewe agidimagbayin, Olorun maa ti kun, a a ku mo. (Folha agidimagbayin, Olorun fecha as portas do Orun para que não morramos mais).

Idi: Ewe idi lori ki ona Orun temi odi. (Folha idi, diga que o caminho do Orun está fechado para mim).

Olobotuje: Olobotuje ma je ki mi bi abíkú omó. (Folha de olobotuje, não me deixe parir filhos).

Opa emere: Opa emere kipe ti fi ku, yiomaa ewu ni, nwón ba ri opa emere. (Galho de emere não permita que eles morram - a vara de emere os apazigua).


Formalizado o pacto, a criança viverá normalmente, como qualquer ser humano, só devendo morrer em idade bastante avançada.

Acredita-se que os seres humanos dotados de espírito ÀBÍKÚ, talvez pelo alto grau de evolução de seu ori, são dotados de muita inteligência e, no decorrer de suas vidas, transforma-se em verdadeiros líderes, dedicados ao bem estar de sua comunidade e principalmente dos seus familiares.

Obatalá participa das ligações que existem entre o orixá da criação, as pessoas de corpos mal formados, corcundas, aleijados, albinos e aqueles cujo nascimento é anormal (ÀBÍKÚ e ibeji).

Portanto, ao contrário que muitos falam, nada tem a ver com a criança que já nasce "feita" no santo.

Olorum fecha a porta para que não morram, mas sabemos que a criança vê coisas más em sonhos, criança chama seus companheiros, brinca com eles, briga, cobram a fidelidade e a promessa e eles dizem que quando sairam para este mundo, que não se esqueceriam deles, mas quando ele chegou ao mundo, ele os esqueceu. Seus companheiros chegam a beira do regato, eles chamam pelo companheiro.

Os pais atentos correm a procura dos babalawos, pedindo que Ifá os ajude, para que este ÀBÍKÚ não seja capaz de morrer, mesmo que seus companheiros o chamem e que ele não sejam capazes de encontrá-lo.

Se a família não corresponde com o carinho e as obrigações devidas, o chefe da sociedade (dos ÀBÍKÚ) no céu, parte para o mundo e ajuda a criança a partir. Estas crianças não escutam. Elas se vão.

Os rituais, embora antigos, passados de boca em boca, escondidos embaixo das unhas de pais e mães de santo, fagulhas espalhadas, de prática religiosa e cultural, que se adaptam e se aplicam ainda hoje através da sabedoria, associada à evolução tecnológica com muita propriedade.

No entanto existem rituais sabidos e antigos que não divulgarei por não aceitar, por acreditar ser rituais retrógrados que agridem, e estimulam mentes desorganizadas em nome de manter rituais dos antepassados e ortodoxos, manipulando assim dor e sofrimento com a desculpa de socorro e felicidade.

Quem esta desesperado, fragilizado e desejoso de um milagre pode aceitar o que considere, repito EU método inadequado.

A facilidade de hoje, através de exames radiológicos, confirmam com certeza situações que podem identificar um ÀBÍKÚ que esta comprometida em criar situações de sofrimento mãe-filho, exames que somados aos búzios ajudam a evitar sofrimento, amenizando as cargas energéticas grosseiras.

Ainda hoje e desde sempre, esperamos que perpetue-se o trabalho para a manutenção da vida em todas as suas formas, descartando o estímulo ao aborto, mesmo em situações de tratamento difícil, árduo, devendo a vida prevalecer sempre.

Pela prática divinatória , através do jogo de búzios, podemos identificar, nos dias de hoje, muitos desses ÀBÍKÚS, que percebemos em uma segunda instância, passam a existir por ingerência do ser humano, através do aborto praticado em tempos passados, sob o véu de mil e uma desculpa, mas o sacrilégio, o martírio é o mesmo.

Ao praticar um aborto, eliminamos apenas o corpo denso, o físico, mas não eliminamos o espiritual, que sofrerá a carga detonadora de seu corpo físico, gerando indignação, e cobrança futura.

Mesmo uma criança deficiente, deve ter sua vida mantida, desde que seu espírito esteja ativo.

Tem a criança deficiente e ou ÀBÍKÚ o direito de nascer? Temos o direito de rejeita-los por problemas físicos, ou por larvas espirituais grosseiras?

... esta pergunta parece, à princípio, absurda, mas não é, e nos dias atuais é tema aberto, ainda que à " portas fechadas".

A concepção de aprimoramento através da reencarnação sucessiva, rompe sobre maneira, com o véu do comodismo relativo a aborto e ao deficiente, e claro sobre os ÀBÍKÚ.

A reencarnação rompe com a fumaça que esconde a confusão, esclarecendo e valorizando todas as experiências humanas, tornando possível que materialistas espiritualistas e pragmatistas ofertem a cultura social preciosos subsídios, porque prevê que o homem do futuro será um homem prático, com condições de solucionar, com grande margem de êxito, os problemas terrenos e imediatos, valorizando o mundo material, pois estará mais certo da imortalidade, entendendo assim o significado circunstancial.

Nós, esotéricos, espiritualistas, místicos e todos que pregam a reencarnação como forma de aprimoramento, resgate; não supervalorizamos o nascimento de uma criança deficiente, mas observamos como um reforço na comprovação de nossa teoria a respeito da finalidade evolutiva do ser humano.

Por este motivo a criança deficiente e os ÀBÍKÚS, sob o prisma místico, têm o direito a vida, nascer. Reencarnar é ter a chance de evoluir, e quanto mais cedo um espírito se aprimorar, evoluir, se reajusta ou se redime pelas vidas sucessivas, tanto melhor para ele, e para todos da sociedade ligado a ele, pois estamos todos comprometidos direta ou indiretamente.

Nossas necessidades, nosso destino e nossos erros são muitos parecidos, e na engrenagem das leis cósmicos – Karma - tem sido e vai sempre ser regra unânime.

Quem colocar obstáculos no caminho do seu semelhante, terá obstáculos iguais a transpor em sua jornada, daí então a necessidade de trabalharmos e usarmos todos os meios possíveis para fazermos os ÀBÍKÚS membros de nossa sociedade.

Esta situação pode e deve ser tratado no seu campo espiritual, e os antigos nos legaram instrumentos para fazê-lo, através de ebós e oferendas específicas, que se vale do mesmo princípio dos antigos: "enganar" os ÀBÍKÚ.

Não vamos driblar as leis divinas, mas podemos alterar os casos não irreversíveis após o nascimento, mas durante a gestação e nos primeiros meses de vida, muita coisa pode e deve ser feita.


LENDAS:

Segundo a lenda, os ÀBÍKÚS vieram à terra, pela primeira vez, na localidade denominada Awaiye, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e seu chefe no Orun.

O grupo era formado por 280 espíritos que, parando no portal do céu, fizeram diversos pactos, condicionando seu retorno a diferentes situações, que variavam de acordo com a escolha de cada um.

Desta forma, alguns estabeleceram a data de sua morte para depois que vissem pela primeira vez, o rosto de suas mães; outros, para quando completassem sete dias de nascidos; outros ainda, para quando começassem a andar; alguns, para quando ganhassem um irmão mais novo; outros, para quando se casassem ou construíssem uma casa. Havia aqueles que nascessem comprometidos a não aceitar o amor de seus pais e todos os presentes e agrados recebidos, seriam inúteis para retê-los na Terra, ao passo que alguns, se comprometeriam, simplesmente, a provocarem seus próprios abortos, não chegando sequer a nascer. Estabeleceram ainda que, se seus pais adivinhassem seus rituais, roupas e oferendas, e, se em tempo hábil os oferecessem, concordariam em permanecer neste mundo.

"Um caçador que estava à espreita, no cruzamento dos caminhos dos ÀBÍKÚ, escutou quais eram as promessas feitas por três ÀBÍKÚS quanto a época do seu retorno ao céu.

"Um deles promete que deixará o mundo assim que o fogo utilizado por sua mãe para preparar sua papa de legumes, se apague por falta de combustível. O segundo esperará que o pano que sua mãe utilizar, para carregá-lo nas costas se rasgue. A terceira (porque é uma menina ÀBÍKÚ ) esperará, para morrer, o dia em que seus pais lhe digam que é tempo dela se casar e ir morar com seu esposo.


"O caçador vai visitar as três mães no momento em que elas estão dando a luz seus filhos ÀBÍKÚS e aconselha à primeira que não deixe se queimar inteiramente a lenha sob o pote que cozinha os legumes que ela prepara para seu filho; a segunda que não deixe se rasgar o pano que ela usa para carregar seu filho nas costas, que utilize um pano de qualidade diferente (dos que se usam geralmente para este fim); ele recomenda, enfim, a terceira, de não especificar, quando chegar a hora, qual será o dia em que sua filha deverá ir para a casa do seu marido.

As três mães vão, então, consultar a sorte, e Ifá, Ihes recomenda que façam respectivamente as oferendas de um tronco de bananeira, de uma cabra e de um galo, impedindo, por meio deste subterfúgio, que os três ÀBÍKÚS possam manter seu compromisso.

Oferece-se um galo para o senhor dos caminhos, BARA LONA, que encombrirá o engodo, não despertando a curiosidade e nem a manifestação dos que estão no mundo espiritual. Porque, se a primeira coloca um tronco de bananeira no fogo, destinado a cozinhar a papa do seu filho, antes que ele se apague (o tronco de bananeira, cheio de seiva e esponjoso, não pode queimar) e o ÀBÍKÚ, vendo uma racha de lenha não consumida pelo fogo, diz que o momento de sua partida ainda não é chegado. A pele de cabra oferecida pela segunda, serve para reforçar o pano que ela usa para levar seu filho nas costas; a criança ÀBÍKÚ não vai achar que esse pano se rasgou e não vai poder manter sua promessa.

Quando chegou a hora de dizer à filha já uma moça, que ela deveria ir para a casa de seu marido, os pais não lhe disseram nada e a enviaram bruscamente para casa dele.



OS IBEJIS NASCEM COMO ÀBÍKÚS MANDADOS PELOS MACACOS

Era uma vez um fazendeiro que vivia caçando macacos, pois os macacos eram uma praga para o fazendeiro, devorando toda a sua lavoura.

O fazendeiro e seus filhos vigiavam a plantação e mesmo com uso de paus, pedras e flechas, não continham o ataque dos macacos.

O fazendeiro perseguia os macacos por toda parte, mas eles continuavam sua investida às safras. Eles criaram mil artimanhas para enganar o fazendeiro.

Nessa disputa, muitos macacos foram mortos, os sobreviventes persistiam.

Uma das esposas do fazendeiro ficou grávida. Veio então um vidente para adverti-lo. Ele disse que aquela matança de macacos era perigosa, pois os macacos eram sábios e tinham poderes. Disse que eles gerariam uma criança ÀBÍKÚ, aquela que nasce para morrer cedo.

Assim, logo depois do nascimento, a criança morreria e isso tornaria a acontecer de novo, num nascer para morrer sem fim, atormentando o fazendeiro até o último de seus dias.

O adivinho aconselhou o fazendeiro a deixar os macacos comerem em paz.

O fazendeiro ouviu, mas não se convenceu e continuou vigiando seus campos e caçando macacos na mata.

Os macacos decidiram mandar dois ÀBÍKÚS para o fazendeiro.

Dois macacos transformaram-se, então, em ÀBÍKÚ e entraram no ventre da esposa grávida do fazendeiro. Lá eles ficaram até a hora de nascer como gêmeos.


Eles foram os primeiros Ibejis a nascer entre os iorubás.

Foram os primeiros gêmeos.


Os Ibejis chamaram muito a atenção de todos.

Uns diziam que eram uma graça, outros, mau presságio.

Mas os Ibejis não permaneceram muito tempo vivos, logo voltando para junto dos que ainda não nasceram, pois eles eram ÀBÍKÚ.

O tempo passou e eles voltaram a nascer e morrer sucessivamente.

O fazendeiro estava desesperado com tamanha desgraça e foi consultar um adivinho de um lugar distante, já que "santo" de casa não faz milagres... para saber a razão daquelas mortes.

O adivinho jogou os búzios e explicou o que estava acontecendo.

Também advertiu o fazendeiro que parasse de perseguir os macacos, deixando-os comer em seus campos. O fazendeiro voltou para casa e não mais perseguiu os macacos.

Sua esposa deu à luz outros Ibejis e eles não morreram. Mas o fazendeiro não tinha certeza ainda se as coisas tinham mudado mesmo e então voltou ao adivinho.

O adivinho jogou os búzios e disse que dessa vez as crianças não morreriam e tornariam a nascer como ocorreria antes.

Disse ainda que os Ibejis não são pessoas normais. Eles têm grandes poderes para gratificar e punir os humanos. Que recebessem tudo o que pedissem para que seus familiares tivessem vida boa.

Quando o fazendeiro voltou para casa, contou para sua esposa tudo o que tinha aprendido. E assim aconteceu e a família do fazendeiro prosperou e na velha aldeia de Ifá, tudo transcorria normalmente.

Todos faziam seus trabalhos, as lavouras davam seus bons frutos, os animais procriavam, crianças nasciam fortes e saudáveis. Mas um dia, a Morte resolveu concentrar ali sua colheita. Aí tudo começou a dar errado. As lavouras ficaram inférteis, as fontes e correntes de água secaram o gado e tudo o que era bicho de criação definhou. Já não havia o que comer e beber.

No desespero da difícil sobrevivência, as pessoas se agrediam umas às outras, ninguém se entendia, tudo virava uma guerra. As pessoas começaram a morrer aos montes.

Instalada ali no povoado, a Morte vivia rondando todos, especialmente as pessoas fracas, velhas e doentes. A Morte roubava essas pessoas e as levava para o outro mundo, longe da família e dos amigos. A Morte tirava a vida delas.

Na aldeia morria-se de todas as causas possíveis: de doença, de velhice, e até mesmo ao nascer. Morria-se afogado, envenenado, enfeitiçado.

Morria-se por causa de acidentes, maus-tratos e violência.

Morria-se de fome, principalmente de fome, mas também de tristeza, de saudade até de amor.

A Morte estava fazendo o seu grande banquete. Havia luto em todas as casas. Todas as famílias choravam seus mortos.

O rei mandou muitos emissários falar com a malvada, mas a Morte sempre respondia que não fazia acordos. Que ia destruir um por um, sem piedade. Se alguém fosse forte o suficiente para enfrentá-la, que tentasse, mas seu fim seria ainda muito mais sofrido e penoso.

Ela mandou dizer ao rei, por fim:

“Para não dizerem que sou muito rabugenta, até concordo em dar uma chance à aldeia, basta que uma pessoa me obrigue a fazer o que não quero. Se alguém aqui me fizer agir contra a minha vontade, eu irei embora, mas só vou dar essa oportunidade a uma única pessoa. Não vou dar nem a duas, nem a três.”
E foi-se embora dali, saboreando antecipadamente mais uma vitória.

Mas quem se atreveria a enfrentar a Morte? Quem, se os mais bravos guerreiros estavam mortos ou ardiam de febre em suas últimas horas de vida? Quem, se os mais astutos diplomatas havia muito tinham partido?

Foi então que dois meninos, os Ibejis, os irmãos gêmeos Taió e Caiandê, que os fofoqueiros da cidade diziam ser filhos de Ifá, resolveram pregar uma peça na horrenda criatura. Antes que toda a aldeia fosse completamente dizimada, eles resolveram dar um basta aos ataques da Morte. Decidiram os Ibejis: “Vamos dar um chega-pra-lá nessa fedorenta figura.”

Os meninos pegaram o tambor mágico, que tocavam como ninguém, e saíram à procura da Morte. Não foi difícil achá-la numa estrada próxima, por onde ela perambulava em busca de mais vítimas. Sua presença era anunciada, do alto, por um bando de urubus que sobrevoavam a incrível peçonhenta. E o cheiro, ah, o cheiro! A fedentina que a Morte produzia à sua volta faria vomitar até uma estatueta de madeira.

Os meninos se esconderam numa moita e, tapando o nariz com um lenço, esperaram que ela se aproximasse. Não tardou e a Morte foi chegando. Os irmãos tremeram da cabeça aos pés. Ainda escondidos na moita, só de olhar para ela sentiram como os pêlos dos seus braços se arrepiavam. Mas podia-se dizer que a Morte estava feliz e contente. Ela estava até cantando! Pudera, tendo ceifado tantas vida e tendo tantas outras para extinguir.

Nesse momento, numa curva do caminho, enquanto um dos irmãos ficava escondido, o outro saltou do mato para a estrada, a poucos passos da Morte. Saltou com o seu tambor mágico, que tocava sem cessar, com muito ritmo. Tocava com toda a sua arte, todo o seu vigor. Tocava com determinação e alegria. Tocava bem como nunca tinha tocado antes. A Morte se encantou com o ritmo do menino. Com seu passo trôpego, ensaiou um dança sem graça. E lá foi ela, alegre como ninguém, dançando atrás do menino e de seu tambor.

O espetáculo era grotesco, a dança da Morte era, no mínimo, patética. Nem vou contar como foi a cena: cada um que imagine por conta própria. E é bem fácil imaginar.

Bem; lá ia o menino tocador e atrás ia a Morte. Passou-se uma hora, passou-se outra e mais outra. O menino não fazia nenhuma pausa e a Morte começou a se cansar. O sol já ia alto, os dois seguiam pela estrada afora, e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá.

O dia deu lugar à noite e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá.

E assim ia a coisa, madrugada adentro. O menino tocava, a Morte dançava. O menino ia na frente, sempre ligeiro e folgazão. A Morte seguia atrás, exausta, não agüentando mais. “Pára de tocar, menino, vamos descansar um pouco”, ela disse mais de uma vez. Ele não parava. “Pára essa porcaria de tambor, moleque, ou hás de me pagar com a vida”, ela ameaçou mais de uma vez. E ele não parava. “Pára que eu não agüento mais”, ela implorava. E ele não parava.

Taió e Caiandê eram gêmeos idênticos. Ninguém sabia diferenciar um do outro, muito menos a Morte, que sempre foi cega e burra. Pois bem, o moleque que a Morte via tocando na estrada sem parar não era sempre o mesmo menino. Uma hora tocava Taió, enquanto Caiandê seguia por dentro do mato. Outra hora, quando Taió estava cansado, Caiandê, aproveitando um curva da estrada, substituía o irmão no tambor. Os gêmeos se revezavam e a música não parava nunca, não parava nem por um minuto sequer. Mas a Morte, coitada, não tinha substituto, não podia parar, nem descansar, nem um minutinho só. E o tambor sem cessar, tá tá tatá tá tá tatá.

Ela já nem respirava: “Pára, pára, menino maldito.” Mas o menino não parava. E assim foi, por dias e dias. Até os urubus já tinham deixado de acompanhar a Morte, preferindo pousar na copa de umas árvores secas. E o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá, uma hora Taió, outra hora Caiandê.

Por fim, não aguentando mais, a aparição gritou: “Pára com esse tambor maldito e eu faço tudo o que me pedires.”

O menino virou-se para trás e disse: “Pois então vá embora e deixe a minha aldeia em paz.”

“Aceito”, berrou a nauseabunda.

O menino parou de tocar e ouviu a Morte dizer: “Ah! que fracasso o meu. Ser vencida por um simples pirralho. ”Então ela virou-se e foi embora. Foi para longe do povoado, mas foi se lastimado: “Eu me odeio. Eu me odeio.”

Tocando e dançando, os gêmeos voltaram para a aldeia para dar a boa notícia. Foram recebidos de braços abertos. Todos queriam abraçá-los e beijá-los. Em pouco tempo a vida normal voltou a reinar no povoado, a saúde retornou às casas e a alegria reapareceu nas ruas.

Muitas homenagens foram feitas aos valentes Ibejis. Mesmo depois de transcorrido certo tempo, sempre que Taió e Caiandê passavam na direção do mercado, havia alguém que comentava: “Olha os meninos gêmeos que nos salvaram.”

E mais alguém complementava: “Que a lembrança de sua valentia nunca se apague de nossa memória.”

Ao que alguém acrescentava: “Mas eles não são a cara do Adivinho?”


Fonte: vetorial.net

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